quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

A arte e a beleza

A Igreja, falando da criação do homem à imagem e semelhança de Deus, ensina que "as múltiplas perfeições das criaturas (a sua verdade, a bondade e a beleza) refletem a perfeição infinita de Deus" (Cat, 41). Portanto, Deus é Verdade, Bondade e Beleza!
Com efeito, ao contemplar a obra que acabara de criar, Deus viu que tudo era bom; viu também que tudo era belo. Segundo a versão grega da Bíblia dos Setenta. Bondade e beleza são faces de uma mesma moeda, segundo o Papa João Paulo II: "Em certo sentido, a beleza é a expressão visível do bem" (Carta aos Artistas, 3). Os artistas manifestam em suas obras, um pouco de sua personalidade, de sua visão de mundo... comunicam ao mundo um pouco de sua alma, de si mesmo. Deus, que na criação manifesta algo de si, contempla sua criação e a vê bela: Deus é Belo!
No curso da história, o Deus-Beleza tem sido cantado e proclamado constantemente. É bastante conhecida a confissão de Santo Agostinho: "Tarde vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova..."; São Francisco de Assis, no século XIII, após receber os estigmas, dizia a Jesus: "Vós sois beleza... Vós sois beleza"; Santa Teresa de Jesus, no século XVI, poetizava: "Formosura que excedeis a todas as formosuras..."
Nos últimos tempos, para usar as palavras do Papa, "a Igreja está especialmente interessada no diálogo com a arte" (Carta aos Artistas, 10), por reconhecer que a beleza de Deus é a porta que conduz o homem moderno a Ele. Num mundo secularizado, que relativiza a verdade e individualiza a bondade, a beleza é a via que, sutilmente, toca o coração do homem e o eleva às alturas. Os Bispos conciliares já explicavam essa realidade: "O mundo em que vivemos tem necessidade de beleza para não cair no desespero. A beleza, como a verdade, é o que traz alegria ao coração dos homens" (AAS 58 (1966),13).
João Paulo II diz ainda: "Para transmitir a mensagem que Cristo lhe confiou, a Igreja tem necessidade da arte" (12). E quantas vezes, no curso dos séculos, a Escritura se manifesta através das diversas expressões das artes: música, arquitetura, pintura, teatro, dança, literatura... As mais modernas formas: expressão gráfica, grafitismo, paisagismo, design, decoração, moda... também começam a dar seu contributo. E têm muito mais a fazer.
Sobre os artistas, o Papa escreve que eles são privilegiadíssimos, pois "na criação artística, mais do que em qualquer outra atividade, o homem revela-se como imagem de Deus (...) Com amorosa condescendência, o Artista divino transmite uma centelha da sua sabedoria transcendente ao artista humano, chamando-o a partilhar do seu poder criador (...) Por isso, quanto mais consciente está o artista do dom que possui, tanto mais se sente impelido a olhar para si mesmo e para a criação inteira com olhos capazes de contemplar e agradecer, elevando a Deus o seu hino de louvor" (Carta aos Artistas, 1).
É preciso dizer que nem todos são chamados à criação artística, mas todos os homens são chamados a viver a dimensão do belo, pois Deus é belo e espera de nós uma vida bela. A todos, e em especial aos que receberam o dom da arte, é preciso que se diga: a primeira verdadeira obra de arte que se deve fazer não é a escultura, a música, a poesia... mas a própria vida. A vida deve ser uma expressão de beleza, de verdade e de bondade.
A Pietà de Michelangelo
Chiara Lubich
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"Madonna" bela de Michelangelo, estás naquela capela da basílica de São Pedro, e cada vez que te olho pareces mais bela. Passam-se dias, anos, séculos, e homens do mundo inteiro e de todas as épocas acorrem para te ver e tu deixas no espírito deles algo de sublime e suave. Dás a quem te admira uma sensação de felicidade: parece que tocas o âmago de toda alma humana, e este raio celeste, que parte de ti, atinge o centro imortal do homem, de todo homem, de ontem, de hoje, de sempre.Quando as tragédias do viver humano me entristecem, quando a televisão, com seus programas, me humaniza mas não me eleva, quando o jornal com as suas crônicas sempre iguais me deixa melancólica, quando a dor me atormenta a alma e o corpo, olho-te e me sinto aliviada.
Há em ti algo que não morre.
(...) Hoje, ao contemplar-te, "Madonna" bela, pensava: quão sublime e divino é o efeito de uma obra de arte. Testemunha a imortalidade da alma, porque se o objeto plasmado não morre, é arte justamente por ser imortal - isto é, não passa enquanto existir - quem te fez não pode morrer. Pareceu-me então que a arte se elevasse a alturas incalculáveis e a beleza fosse, assim como a verdade e a bondade, matéria-prima do reino celeste que nos espera, e tive a impressão de que, sem saber, os verdadeiros artistas têm uma missão apostólica.
(...) Em todo caso, basta que o artista plasme na obra a sua alma. E a alma do artista, ainda que seja ateu, é imortal.
A alma é imortal porque é "una". Por ser "una" não pode desfazer-se, dividir-se. E aqui está, acredito, a primeira causa da obra de arte.
Se o conteúdo da filosofia é a verdade, o conteúdo da arte é a beleza. E a beleza é harmonia, o que significa "altíssima unidade". Ora, quem saberá compor em harmonia as cores e os elementos de uma pintura senão a alma do artista, que é "una", à imagem de Deus que a criou?
É a alma humana, reflexo do céu, que o artista transfunde na obra, e nesta 'criação', fruto do seu gênio, o artista encontra uma segunda imortalidade: a primeira em si, como todo homem nascido nesta terra; a segunda nas suas obras, por meio das quais ele se doa à humanidade no decorrer dos séculos.
Talvez o artista seja quem mais se aproxima do santo. Porque se o santo é aquele prodígio que sabe dar Deus ao mundo, o artista, de um certo modo, doa a criatura mais bela da terra: a alma humana.
Foi isto que meditei diante de ti, "Madonna" bela de Michelangelo. E como a ti falei, a ti faço um pedido: olha os artistas, que te contemplam cada dia, com olhar materno, e sacia esta sede de beleza que o mundo sente. Manda grandes artistas, mas plasma com eles grandes almas, que, com o seu esplendor, encaminhem os homens ao mais belo dentre os filhos dos homens, o teu doce Jesus.
Fonte: Comunidade Shalom

domingo, 10 de janeiro de 2010

A Fé e o sim de Maria ao Chamado de Deus

Contemplamos o mistério da Anunciação, um dos mais importantes da nossa Fé! Juntamente com a anunciação, queremos lembrar, também, o mistério divino e humano, que é a nossa vocação. Não temas!! Eis o elemento essencial da vocação, porque o temor acompanha sempre o homem. Ele teme ser chamado para o sacerdócio e também para a vida, para a sua missão, para uma profissão e para o matrimônio.
É necessário vencer qualquer indecisão ou temor para alcançar a responsabilidade madura que nos leve a ouvir e aceitar o chamado, responder com um SIM decidido e generoso. Portanto, não temas, porque achaste graça, não temas a vida, a tua maternidade, o teu casamento, o teu sacerdócio porque achaste graça. Esta coincidência nos ajuda, assim como ajudou Maria. A Terra e o Paraíso esperam o teu sim. O Céu e a Terra atendem o teu SIM, mãe que está para dar a luz a teu filho, homem que deve assumir uma responsabilidade pessoal, familiar e social; atende o teu sim, voce que foi chamado para o sacerdócio. Um sim maduro, fruto da graça e da colaboração pessoal. É, portanto, necessário a fidelidade e a perseverança para desempenhar o SIM por toda a vida. "Nunca mais te deixarei" dizem-se mutuamente os esposos no dia do casamento. " Nunca te deixarei, diz o seminarista, depois o sacerdote no dia de sua ordenação! Há também, um outro aspecto: Todos os homens e as mulheres são chamados a realizar o seu SIM à imitação de Maria, Um SIM repleto de alegria, de vida nova e de benção. Um Sim como aquele de Maria seria uma benção, um bem para o mundo, uma salvação e uma esperança! O teu sim, a tua fidelidade e perseverança geram também alegria e o mundo sente-se renovado. Graças ao teu SIM a vida humana em todas as suas dimensões torna-se mais alegre e esperançosa. A exemplo de Maria, digamos, todos nós um Generoso SIM a Deus e a humanidade!

Texto: Frei Rinaldo TV Século XXI

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

O Perfil do Ministro de Música

"... tenha visto um filho de Jessé, o belemita, que sabe tocar e é um valente guerreiro, fala bem, e é de bela aparência e Iahweh está com ele". (I Sm 16, 18)
O ministro de música, antes de tudo, deve ser um homem de Deus. Deve ter uma vida reconciliada com Deus e os homens em vista da missão dada por Ele mesmo: evangelizar com a arte musical. Deve ser como Davi, que além de tocar era um valente guerreiro que falava bem e de boa aparência, no entanto o mais importante era que o SENHOR estava com ele: ele era um homem de Deus.
quando se fala de perfil do ministro, está se falando do pensamento do ideal para o serviço, que se constrói na vida cotidiana. Assim, enumeramos o que vem a ser luz e motivação diante do que Deus quer realizar:

1- Silêncio

"... um tempo para falar e um tempo para calar". (Eclo 3,7)
O ministro de música precisa valorizar devidamente o silêncio dentro do seu ministério, sabendo discernir quando e como fazê-lo, este momento não deve ser infecundo, mas fecundo, pois é exatamente neste silêncio que Deus o visita e irriga a semente que Ele plantou; a postura adequada é de escuta e acolhimento ao que Ele plantou, a postura adequada é de escuta e acolhimento ao que Ele tem para dar.
É importante o silêncio no ministério, mas também é importante o silêncio do ministro de música, é sobretudo o próprio ministro que deve saber o tempo de calar e o tempo de ação, canto, evangelização.
Muitas experiências com Deus se dão no silêncio que se faz em Sua Presença e Majestade, vemos então a importância do silêncio, pois se há experiência há testemunho, e qual seria o sentido de ministrar música se não sou testemunha? Se no meu canto não há verdadeira evangelização? Tudo parte do meu silêncio orante diante de Deus e então começa a verdadeira missão, fundamentada na Vontade de Deus.

2- Obediência

"Eu sou a serva do Senhor: faça-se em mim segundo a tua palavra".(Lc 1,38)
Os que por Deus são chamados a serem ministros de música recebem com este chamado graças que o capacitam a corresponder esse chamado, dentre elas a obediência.
O que é a obediência do ministro de música senão fazer a vontade de Deus? Um músico eleito não faz mais a sua vontade, mas a de Deus, a não ser que sua vontade coincida com a de Deus... Mas sabemos que nem sempre é assim, então Deus nos concede a graça para que se possa ser fiel a Ele.
Na verdade não existe ministro de música não obediente, pois ser ministro de música não é uma escolha do músico, mas de Deus, e se o músico diz Sim ele correspondeu ao chamado Divino, em outras palavras: obedeceu.
A primeira pessoa a quem o ministro de música deve obediência é a Deus. As pessoas que devemos obedecer são na verdade, Mediadores da autoridade concedida por Deus. Devemos obediência as nossas autoridades, não por elas mesmas, mas porque a elas foi dada a missão de representarem a Deus.
O músico deve ser atento a sua vivência da obediência, pois Deus lhe chama constantemente a obediência para ser feliz, na oração pessoal, na leitura de Sua Palavra, na eucaristia ou através da mediação das autoridades constituídas por Ele, de uma maneira muito especial, as autoridades eclesiásticas, mas também o coordenador do ministério, por exemplo.
A obediência é uma grande fonte de bênçãos, eficaz instrumento que o Senhor utiliza para purificar a nossa vontade nos tornando livres para seguir Jesus Cristo. (cf. ECCSh 131).
a eficácia de uma evangelização depende totalmente da obediência, sem a obediência tocar ou cantar será em vão, de nada valerá..., pelo menos para nós, embora parcialmente edifique os outros.

3- Profissionalização

Além de uma necessidade e de ser vontade de Deus, a profissionalização é uma fonte de eficiência diante do empenho que é exigido no serviço, não deixando, de exigir um empenho próprio para conquistá-la, com entusiasmo e perseverança. É muito importante ressaltar que ela está abaixo do amor a Deus, não pode ser prioridade quando não há vida concreta de oração, pois será um simples sinal deste amor.
Na velha batalha entre a vida espiritual do ministro e o seu desejo de progresso, no tocar ou no canto, que só será verdadeiro se for fruto do progresso interior, pode-se dizer que profissionalizar-se é viver um dos aspectos necessários no cumprimento da missão própria do ministro de música, afinal Deus fará na humanidade do servo a aptidão natural aperfeiçoada pelo conhecimento, estudo técnico, cuidados básicos com os devidos instrumentos utilizados, desde a bateria até as cordas vocais.
Haja, contudo, um cuidado quando se busca a técnica, com a influência de instrutores(as) de música que tenham, além de uma visão, uma vida ou ideologia não evangélica, especialmente na área específica da qual estamos tratando. Isto para que não haja quebra de uma reta intenção do coração, muito menos a direção que deve tomar o ministro no seu serviço. Se a técnica é instrumento de desvio, melhor seria operar a graça na "fraqueza" do servo. Ser um profissional no Reino pede uma maturidade e uma abertura para que Deus continue sendo o centro das opções e da vida do músico.

4- Humildade

O humilde, pousa os olhos no Senhor: "Tu sois Santo, Tu sois Altíssimo." Sabe que por si só nada tem e nada é; reconhece imediatamente o bem que em si existe e as qualidades que possui, mas tem sempre em mente a expressão: Que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te glorias como se não o tivesses recebido? (I Cor 4,7); humilha-se no reconhecimento do seu próprio nada e da sua absoluta dependência de Deus, e mantém-se no lugar que lhe compete.
O humilde vê com clareza que tudo recebeu de fora, tanto na ordem da natureza: vida, corpo, inteligência, talento, saúde e força, olhos, membros, etc; como na ordem da graça. "Deus produz em nós o querer e o agir"(Fil 2,13), "não que por nós mesmos sejamos capazes de pensar coisa alguma, porque a nossa suficiência vem de Deus"(II Cor 3,5); nenhum pensamento, nenhuma decisão salutar, grata a Deus, nenhuma obra boa, nem mesmo a mais íntima, nenhuma oração. Nenhum ato de fé ou de caridade provêm do servo nem pode-se tomar completamente para si. Mesmo a cooperação com a graça, o fato de não se abusar dela e de se lhe corresponder inteiramente, é fruto da ação de Deus na vida do ministro. Quão exatas são as palavras do Apóstolo: "Que tens tu que não tenhas recebido?" Nada, absolutamente nada !
Ele sabe, todavia, que há algo exclusivamente do homem: o pecado. O humilde sabe muito bem que, abandonado a si mesmo, só disso é capaz: de pecar. Se não caiu ainda nestes ou naqueles pecados, não o deve a si mesmo, mas unicamente a Deus que, na sua infinita misericórdia, o preservou: isolado não teria podido defender-se. Como o publicano do Evangelho, reconhece-se pecador, e indigno de levantar os olhos ao céu, indigno da estima e do afeto dos homens; merecedor de ser tratado apenas como é: um pecador.
É dizer como São Francisco: "Quem és Tu, quem sou eu". É olhar para si com os olhos de Deus para conhecer-se, acolher-se e amar-se com o Seu amor. Como transbordamento de uma conversão que se dá constantemente a partir deste conhecimento saberá o ministro ser, na sua missão, o que Deus quer, o que Ele pensa, o que Ele espera.


5- Serviço:

Aquele que serve "deve 'fazer-se tudo para todos'(I Cor 9,22) a fim de conquistar todos para Jesus Cristo... Particularmente, não imagine ele que lhe é confiado um único tipo de almas..." (CIC 24)
Uma forte característica do bom ministro de música é o serviço: lavar os pés dos outros com água nova, amar a todos, dar-se sem medir, fazer a vontade de Deus... sempre no louvor, fazendo uso de uma linguagem atualizada e própria para cada instante. Aqui se pode destacar tanto a renovação do repertórios utilizados nas diversas assembléias (congressos, cursos, missas...), como o uso dos carismas em benefício do povo ao qual se serve.
É importante, neste aspecto do serviço, refletir que:
SER DA LINHA DE FRENTE é servir primeiro, buscando imitar mais de perto o Senhor, sofrendo as primeiras conseqüências, chegando antes e saindo depois.
ESTAR NA OFENSIVA E NA DEFENSIVA é servir na batalha espiritual, ao Senhor e ao seu povo. Dispor tudo para Deus indo contra a ação silenciosa, sutil ou mesmo nítida do inimigo, intercedendo para que se abra o céu num derramamento de graça. Estar atento ao que possa romper com a ação de Deus e pela graça, pela unção, defender a assembléia, "o coração do homem", contra os ardis do demônio, ou mesmo, contra as próprias tendências da carne.
O ministro de música está:
- A serviço da Trindade: Servir ao Pai, por Cristo, no Espírito, fazendo, por sua vez, a vontade de Deus - como Jesus, pobre, obediente e casto - na unção do Espírito, precisando ir onde Deus mandar, esperando, vivendo e crendo n'Ele. Por amor...
- A serviço do povo de Deus: Ë para o povo que existe o ministério de música. Este é auxílio, porte da graça. Deus realiza por meio de homens para alcançar outros homens. Não é fazer o que o povo quer e sim saber o que Deus quer fazer em favor do povo. Servir bem é, portanto, dar somente o que vem de Deus para saciar a fome e a sede do povo.
- A serviço da Igreja: Ministramos o que cremos e não a nós mesmo, e não a cultura, o conhecimento por ele mesmo, a lógica. Ministramos a verdade conhecida e experimentada, a graça recebida e transbordada, a fé acolhida e vivenciada. É indispensável a coerência entre a vida do servo e a fé professada pela Igreja, afinal, como Igreja as partes formam um todo que necessita estar em unidade e esta unidade exige conhecimento, busca da verdade, renúncia das próprias mentalidades geralmente formadas pelos ditames do mundo.

6- Disponibilidade

Numa visão generalizada aquele que deseja cuidar com fidelidade da missão à qual o Senhor lhe convidou a servir, necessita estar disposto a dar-se sem medidas. "Amar é dar-se até doer". (Madre Teresa de Calcutá). O ministro de música é igualmente chamado a sair de si, a servir. Não é um ministério para os que se servem, nem tão pouco para os que preferem servidos, mas para os que preferem oferecer gratuitamente o que recebem de Deus e o fazem por gratidão ao próprio Deus. O desejo do sacrifício deve, assim, ser como um motor que leve o eleito a sempre ir além, a dispor não somente as suas possibilidades e potências ao Senhor e aos irmãos, mas ao sacrifício cotidiano do que é lícito para unir, como a viúva no templo, o que de nós é mais precioso em favor da edificação do Reino.
Existem, contudo, algumas formas de servir-se no ministério: não participar de ensaios; não comparecer às formações; cantar ou tocar apenas o que se gosta ou quando se está bem, ou ao menos considera estar bem. Quem está neste rol precisa buscar a sua verdade pelo fato de ainda não ter entendido que ministério é serviço a Deus e ao outro.

7- Maturidade humana

Ao falarmos sobre o tema maturidade humana imediatamente imaginamos que seja o momento da vida do homem no qual alcançou o discernimento pleno para dirigir sua vida e realizar grandes coisas sozinho, no entanto, na vida cristã, o homem atinge a maturidade no momento em que conhece a sua verdade, sua pequenez, sua fraqueza, lança-se inteiramente nas mãos de Deus e colabora com a sua ação.
Exatamente porque reconhece a sua fragilidade, sua pequenez, sabe que não pode dirigir sua vida sozinho, necessita da ação do Espírito Santo sobre a sua natureza humana, porque só o Espírito desenvolve perfeitamente as suas capacidades humanas, intelectuais, espirituais, suas aptidões, até que alcance a idade madura.
Uma boa maneira de perceber como se caminha para a maturidade é poder responder, na verdade a algumas indagações como:
- Tenho compreendido que necessito me relacionar intimamente com o Espírito Santo? Sou um daqueles que agem como se o Espírito Santo não existisse? Tendo o Espírito Santo em mim, posso continuar com uma vida medíocre?
- Sou bastante dócil ao Espírito Santo, bastante disponível para seguir seus conselhos ditos em segredo ao meu coração, seus misteriosos convites? Sou capaz de responder a seus apelos pelo verdadeiro progresso que é o interior?
- Tenho agilidade diante dos impulsos do Espírito Santo? Deixo o Espírito Santo inteiramente livre para dirigir a minha vida de acordo com a sua vontade?
- Tenho colaborado com todas as minhas forças com a ação do Espirito Santo para que todas as minhas aptidões, talentos sejam plenamente desenvolvidos? Deus me deu muitos talentos a nível espiritual, humano, intelectual e eu tenho colaborado para que estes talentos se multipliquem?
- Nas minhas tribulações, nas minhas dúvidas, tenho sabido invocar o Consolador? Sou eu um obstáculo à ação do Espírito Santo em minha própria alma?
- É mais um dos caminhos que o ministro necessita, com diligência, trilhar para servir conformado ao Evangelho. Como ensina a Santa Madre Teresa de Jesus de Ávila: "Quanto mais humano, mais santo".

8- Unidade

Para que a música seja ministrada com poder, na ação do Espírito, é preciso que haja harmonia de relacionamento entre aquele que ministra a música e aqueles que irão fazer uso da Palavra; entre quem anima e quem conduz a oração; entre vocal e instrumental; entre vocais; entre instrumentistas; entre ministério e assembléia. Enfim, a unidade, que será fruto de uma graça de oração e docilidade à ação do Espírito, é essencial para que todos bebam de todo bem, graça e unção que Deus deseja derramar.
Por exemplo, após uma pregação a música a ser ministrada deve ser uma continuidade de tudo o que foi pregado, desta maneira, não haverá quebra no que estava sendo conduzido. Para haver esta harmonia entre a pregação e a música, o ministro deve estar atento o tempo todo ao que está acontecendo, ao que está sendo falado.
Em outros casos, como a Celebração Eucarística, é preciso haver coerência entre o tom da liturgia, conforme o tempo onde se está celebrando, e o serviço na música. Na quaresma não se canta o glória nem aleluia, caso o ministro não seja bem formado e faça uso de um desses cantos, estará indo de encontro com o que pede a liturgia, e isto é uma forma de se quebrar a unidade.
Existem muitas formas de construir ou de quebrar a unidade, cabe a cada ministro o zelo pelo conhecimento pessoal das mentalidades que se traz quanto ao "ser" e o "fazer" o melhor, como no que diz respeito ao conhecimento intelectual de liturgia, oração de grupo, animação, da mesma forma, que o conhecimento da vontade de Deus para cada instante em que se serve. Sem docilidade e disponibilidade a Deus e aos irmãos não se constrói a unidade.


9- Postura

Para ministrar com poder também é preciso um cuidado com a aparência, pois o músico deve sempre ter a postura de servo, para Jesus aparecer no seu lugar. Outrossim, como o músico é templo do Espírito Santo (I Cor 3, 6), deve cuidar do templo que é ele mesmo e vestir-se com sobriedade, usando roupas que não provoquem sensualismo. Não vista-se com exuberância, mas com simplicidade. Para facilitar, é bom até que se tenha um uniforme, algo simples, para ser usado nas apresentações, eventos ou missas e dar um toque especial na unidade.
A postura do músico não deve ser a de aparecer com seu instrumento ou sua voz, mas de deixar Cristo aparecer em si mesmo. É importante que o músico cante com o corpo todo, mas que não faça gestos exagerados nem escandalosos.
O músico não precisa focar escondido atrás das caixas ou do seu instrumento. Há pessoas que se escondem atrás de uma guitarra, ou de um teclado, para não deixar que Jesus o cure e o toque!
Outra dica importante é evitar conversas paralelas que não estão no contexto do evento e que não hajam certos tipos de brincadeiras, durante a atuação do ministério, ou melhor, a sobriedade caminhe ao lado de todo aquele que se dispõe ao serviço.

10- Alegria

São Tiago nos diz: "Está alguém alegre? Cante salmos" (Tg 5, 13).
A alegria é a expressão maior de quem tem Deus no coração. Dizia Santo Agostinho: "Um Santo triste é um triste santo!". O coração e o rosto do músico devem transbordar de alegria, pois não convence ninguém um cantor que ministra sem a graça do louvor e da alegria.
"Alegre-se o coração dos que buscam o Senhor" (Sl 105, 3).

sábado, 2 de janeiro de 2010

Artista principal ou coadjuvante?

Uma reflexão sobre a identidade do músico católico

O que é ser artista principal ou coadjuvante? no dicionário o real significado dessas palavras é:
- Principal significa ser o primeiro, o mais considerado, o mais importante, fundamental, essencial.
- Coadjuvante vem do verbo coadjuvar, que significa ajudar a outrem, trabalhar com, colaborar no intuito comum.

Quando nos colocamos ao serviço da evangelização, devemos sempre nos lembrar que o artista principal deve ser Deus. Ele deve ser O primeiro, O mais importante, O essencial, nós devemos ser apenas coadjuvantes, instrumentos de evangelização, devemos pensar sobre a responsabilidade que temos aos assumirmos nossa verdadeira missão, a qual fomos chamados, se estivermos preocupados com as glórias, fama, reconhecimentos ou dinheiro, com certeza estaremos no caminho errado. Vejam o que o Papa João Paulo II nos fala sobre isso na Carta aos Artistas: “A vocação diferente de cada artista, ao mesmo tempo que determina o âmbito do seu serviço, indica também as tarefas que deve assumir, o trabalho duro a que tem de sujeitar-se, a responsabilidade que deve enfrentar. Um artista, consciente de tudo isto, sabe também que deve atuar sem deixar-se dominar pela busca duma glória efêmera ou pela ânsia de uma popularidade fácil, e menos ainda pelo cálculo do possível ganho pessoal. Há, portanto, uma ética ou melhor uma «espiritualidade» do serviço artístico, que a seu modo contribui para a vida e o renascimento do povo. A isto mesmo parece querer aludir Cyprian Norwid, quando afirma: «A beleza é para dar entusiasmo ao trabalho, o trabalho para ressurgir. »”

No II Encontro Nacional da Equipes de Nossa Senhora, realizado em Florianópolis (SC), o secretário geral da CNBB, Dom Dimas Lara Barbosa disse em uma palestra uma coisa que me marcou muito, “Grandes atores e atrizes fazem o público rir e chorar com muita facilidade, e isso não quer dizer que eles acreditem piamente naquilo que estão interpretando”.

Devemos ter o cuidado de não nos tornarmos apenas artistas, que fazem as pessoas se emocionarem, mas em nosso íntimo, não acreditarmos e vivermos aquilo que proporcionamos aos outros, vale lembrar aquilo que Jesus nos diz no evangelho de (Mateus 7, 22-23) “Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não pregamos nós em vosso nome, e não foi em vosso nome que expulsamos os demônios e fizemos muitos milagres? E, no entanto, eu lhes direi: Nunca vos conheci. Retirai-vos de mim, operários maus!”

Recomendo a todos os artistas que leiam a carta que o Papa João Paulo II nos escreveu, tenho a certeza que vai acrescentar muito em suas vidas. Para quem deseja realmente ser um artista coadjuvante, deixando o papel principal para Deus, busque sempre o fortalecimento espiritual nos sacramentos, em especial, na Eucaristia, na constante oração, sempre que possível, com os joelhos no chão, reconhecendo a nossa miséria diante do nosso Criador.


"Deus não é injusto, Ele não se esquecerá do trabalho de vocês e do amor que demonstraram por Ele, pois ajudaram os santos e continuam a ajudá-los. Queremos que cada um de vocês mostre a mesma prontidão até o fim, para que tenham a plena certeza da esperança." Hebreus 6:10,11.

Texto: Rogério Aquino

O que é a RCC?

Uma espiritualidade? Uma corrente de graça? Um movimento? O que é, enfim, essa tal Renovação Carismática Católica? Quais são suas origens? Depois de quatro décadas de caminhada, os que desempenham o papel de dirigentes na Renovação Carismática são capazes - hoje, melhor que ontem - de enunciar com mais precisão e clareza o que querem dizer quando a ela se referem. Ou, como gostariam de ser identificados. Os atuais estatutos do Serviço Internacional da Renovação Carismática Católica (ICCRS, na sigla em inglês que identifica o seu Escritório internacional junto ao Vaticano, em roma) assim a define: "A Renovação Carismática Católica (RCC) é uma graça de renovação no Espírito Santo com um caráter mundial e muitas expressões na Igreja Católica, mas não é uniforme, nem unificada. Não possui um fundador único nem um grupo de fundadores e não possui lista de membros. É, antes de tudo, um fluxo de graça que permite às pessoas e aos grupos expressarem-se em diferentes maneiras e formas de organização e atividades, muitas vezes independentes umas das outras, em diferentes estágios e modos de desenvolvimento, com ênfases diferenciadas. No entanto, partilham da mesma experiência fundamental e comungam dos mesmos objetivos... A liderança é caracterizada mais pelo oferecimento de serviços do que pela governança. Em várias realidades, a RCC se organiza como um Movimento Eclesial, mas há também estruturas tais como comunidades, redes de comunicações, Escolas de Evangelização, Estações de Televisão, Associações, Institutos religiosos e seminários, como também Editoras, Músicos, Missionários e Pregadores. Todos estes, embora não formalmente associados em uma estrutura específica, possuem um perfil carismático".
"A RCC é uma graça de renovação no Espírito Santo com um caráter mundial e muitas expressões na Igreja Católica"
Ao considerar-se "uma graça de pentecostes", a RCC quer vincular a compreensão de sua história ao evento daquele Pentecostes nas origens do cristianismo, quando, "em cumprimento de suas promessas" (cf. At 1,4-8), Deus enviou o Seu Espírito Santo como dom, para estar agora "com os homens e nos homens" (cf. Jo 16,15-17), a habitá-los (cf. Cor 3,16;6,19) para sempre (cf. Jo 14,16), a fim de que pudéssemos testemunhar eficazmente a Jesus Cristo até os confins do mundo (cf. At 1,5-8), sob Sua ação poderosa na missão de revelar toda a verdade a respeito de Jesus (cf. Jó 16,13-14). Essa ação do Espírito não cessa de acontecer na história da Igreja, mas por vezes, o povo de Deus pareceu pouco atento a esse operar e, por diversas circunstâncias históricas (hoje bem identificáveis), afastou-se da devoção ao Espírito, confiando - ao por em marcha os seus projetos de evangelização -, mais em seus recursos, em sua própria capacidade, do que no "poder do alto", prometido para esse fim.
Aqui e ali, através dos séculos, Deus vai suscitando alguns eventos e pessoas que colocam em relevo a importância desse operar do Espírito. Nos últimos tempos, com o forte acento dado por alguns religiosos à exegese que decorre especialmente do livro dos Atos do Apóstolos, surge o "Pentescostalismo" - corrente religiosa cujo comportamento cultural se identifica com os elementos presentes no evento Pentecostes, especialmente a espontaneidade e o vigor na oração pessoal e coletiva, o exercício dos carísmas do Espírito, e a pregação querigmática com entusiasmo.

Texto Reinaldo Bezerra