terça-feira, 24 de julho de 2012

Eventos: Portas de entrada ou fins em si mesmos?


Nossas lideranças têm investido um tempo precioso para organizar eventos, mas as pessoas que frequentam nossos encontros são estimuladas a participar de nossos Grupos? Elas passam a ter uma vivência eclesial? Tornam-se compromissadas com o anúncio, ou estão vivendo de encontro em encontro em buscas dos “aspectos gloriosos” da caminhada?
Eu gostaria de convidá-lo (la) a lembrar-se do último encontro que você ajudou a organizar ou esteve presente.  As pregações estavam ungidas? A música foi boa? As pessoas foram "tocadas"?  Provavelmente você dirá que “sim”. É característica nossa. Por mais simples que sejam, nossos encontros costumam ser muito bons. Neles testemunhamos o operar do Espírito Santo. E isso não pode mudar nunca, porque faz parte do nosso jeito de ser.
Mas continuemos nossa reflexão. Quem eram as pessoas que estavam naquele encontro de carnaval, cenáculo, retiro de primeiro anúncio ou naquele show que promovemos? Quem eram aqueles que escutaram nossas lindas músicas? Alguns deles nós até vimos chorar. Quem eram? E outra questão mais importante: onde esses irmãos estão agora?
Na semana seguinte ao evento, eles foram para algum dos nossos Grupos de Oração? Começaram a trilhar uma caminhada no seio da Igreja Católica? Se não foram, você saberia dizer qual a razão? Ou melhor, quais as razões? Claro, não podemos controlar a vida das pessoas, nem queremos isso. Não teríamos essa pretensão, mas, lamentavelmente, é preciso admitir algo: muitos que lá estavam não foram a um dos nossos Grupos simplesmente porque não foram convidados. É triste constatar isso!
Eis uma história verídica: um jovem, que vivia o drama da dependência química, teve um encontro pessoal com Jesus Cristo em um tradicional evento de carnaval da RCC e foi liberto desse drama, mas, por incrível que pareça, ele saiu do encontro sem saber quem o havia promovido. Sabe por quê? Porque ninguém, em nenhum momento, falou que ali estava a Renovação Carismática Católica e que se as pessoas quisessem continuar a beber daquela espiritualidade bastaria irem ao um de nossos Grupos. Um ano depois, somente, é que outra pessoa o convidou a participar de um Grupo. E ele foi!  Nunca mais abandonou. Precisava ter demorado tanto tempo? Claro que não! O certo seria ele ter saído do encontro com essa valiosa informação.
Temos perdido a oportunidade de pastorear as pessoas, de cuidar delas, porque geralmente quando o assunto é “evento”, temos nos ocupado muito como o “antes”, com o “durante”, mas temos esquecido o “depois”.   
Precisamos refletir seriamente sobre isso. Os nossos eventos não devem ter um fim em si mesmos. O que isso significa? Que eles têm que estar conectados com o todo do trabalho evangelizador que somos chamados a desenvolver. Não podem acontecer de forma isolada.   Devem estar inseridos em nossas atividades, de forma a complementá-las, fortalecê-las.
Façamos um raciocínio: Qual é a base da nossa estrutura como Movimento? O Grupo de Oração! Onde somos chamados a servir o Senhor, onde vivemos nossa espiritualidade no dia a dia? No Grupo! Este ano, de forma insistente, temos sido lembrados desse caráter evangelizador dos Grupos de Oração da RCC. Eles são ambientes de missão por excelência.
Como, então, podemos fazer encontros sem contemplá-los? Ao preparar um evento (qualquer um) temos que pensar em estratégias para a manutenção do nosso trabalho de evangelização. É o pastoreio! Afinal, ao lançarmos as sementes, várias possibilidades conspiram contra o nosso trabalho.
Foi Jesus quem nos alertou a esse respeito. Em Mateus 13, ao falar sobre o semeador, Ele mostra que de quatro tentativas, apenas uma resultou em frutos verdadeiros.
Aquela pessoa que vimos chorando em um dos nossos eventos e depois nunca mais encontramos na Igreja pode ter dado alguns passos e ter tido sua semente roubada pelo passarinho (maligno) como o próprio Senhor explica no versículo 19. Ou ela pode ter escutado a linda música no show, apreciado com “alegria” (versículo 20), mas como não havia raízes, na primeira oportunidade, pode ter abandonado a caminhada.
Ou, quem sabe, anunciamos para alguém cujos cuidados com o mundo o impediram de abrir a porta do coração para Jesus de verdade. E ele saiu cantarolando a música que ouviu, mas sem disposição para as renúncias exigidas pelo Senhor.
Talvez alguns possam dizer: - “Isso não é minha responsabilidade, a Graça é um mistério”. Sim! Mas não podemos fugir da responsabilidade para com as pessoas a quem anunciamos a Palavra.  Nós podemos minimizar as perdas. Podemos dificultar a ação do “passarinho” que tenta roubar o que plantamos.
O Apóstolo Paulo é um grande exemplo para nós. Vejamos o zelo que ele tinha pelas comunidades às quais apresentou a fé cristã. Ele não anunciava e depois abandonava cada qual a própria sorte. Ele cuidava de seus filhos espirituais. Temos que ser como Paulo.
Não podemos, com toda honestidade, nos contentarmos com um único momento de anúncio. Devemos organizar nossos encontros como sendo “portas de entrada”.  Se não, como vamos implantar a Cultura de Pentecostes neste mundo? Vejamos o que Bento XVI nos falou por ocasião do 45º Dia Mundial das Comunicações Sociais sobre a Verdade que anunciamos:
 “... deve tornar-se alimento quotidiano e não atração de um momento. A verdade do Evangelho não é algo que possa ser objeto de consumo ou fruição superficial, mas dom que requer uma resposta livre”. O Papa escreveu isso ao referir-se à evangelização na internet, mas essa exortação cabe bem nesse contexto que ora abordamos.
Reinaldo Beserra do Reis nos presenteia, nesta edição, com uma reflexão sobre o compromisso com o Evangelho. Na página 10, ele questiona o comportamento daqueles que se contentam em ser apenas discípulos, sem assumir o compromisso com a Missão. Nós estamos incentivando as pessoas a serem assim ou estamos cuidando para que elas se tornem cristãs convictas e atuantes?
Estamos tratando de um assunto sério. Jesus nos deixou um parâmetro para avaliarmos se nossa evangelização deu resultados ou não: a própria pessoa que recebeu a mensagem do Reino passa a ser uma semeadora (cf. Mt 13,23).
Claro, não cabe a nós estipular o ritmo de crescimento espiritual de alguém, mas podemos nos empenhar para que aquelas pessoas que participam dos encontros que organizamos com tanta dedicação tenham a chance de receber alimentação continuamente. Isso nós podemos fazer! Basta mudarmos um pouquinho o nosso jeito de organizar, de nos comunicarmos.
É preciso termos coragem de autoavaliarmos. É necessário que partilhemos com os servos esse tipo de reflexão. Formar membros do Movimento com senso crítico. Sem deslumbramentos. Pessoas que não se deixem seduzir por uma tal “cultura da fama”, de culto às celebridades. Esforçarmo-nos para que as massas para as quais anunciamos sejam transformadas em verdadeiro povo de Deus. Sobre isso falaremos na próxima edição da Revista Renovação.
Que o Espírito Santo, protagonista da Missão, nos ensine a semear para que nosso trabalho dê muitos frutos: “cem por um, sessenta por um, trinta por um” (cf. Mt 13,24).
Sugestões: 
-Falar com frequência da Igreja, da beleza do catolicismo, incentivando os participantes a buscarem os Sacramentos a partir daquele encontro;
-Incluir pregações que falem da RCC.  Contar aos participantes a história deste Movimento, suscitado pelo Espírito Santo. É importante que aqueles que se achegam a nós conheçam a RCC, que tem sido uma estratégia de Deus para a transformação de tantas vidas;
-Contemplar momentos e pregações que falem sobre os Grupos de Oração, incentivando, por meio de testemunhos, as pessoas a conhecê-los;
- Anunciar no palco, várias vezes, que se trata de um evento da RCC. Nas faixas e painéis que identificam o nome do Evento, escrever por extenso: Renovação Carismática Católica;
-Produzir materiais que divulguem nomes e locais de funcionamento dos Grupos da região onde o Evento acontece. Podem ser simples, impressos, xerocados, escritos à mão. Enfim, os meios que estiverem ao alcance e possibilidades financeiras dos organizadores;
-Preparar servos que farão trabalho de abordagem, conversarão, rezarão com as pessoas que estão recebendo o anúncio.  Pessoas que farão um contato direto, convidando os participantes a participarem de um Grupo de Oração. Essa estratégia é fundamental principalmente nos shows de evangelização.
 Lúcia V. Zolin – coordenadora nacional da comissão e Ministério de Comunicação
Grupo de Oração Divina Misericórdia

Praticar o carisma da profecia na Renovação Carismática


A profecia é uma mensagem de Deus, uma manifestação do Espírito para o bem geral, pois os que profetizam edificam, exortam e confortam a comunidade (1 Cor 12,7; 14,3). Pode ser expressada através de uma frase, visualização ou texto da Bíblia.
Nos grupos de oração da Renovação Carismática Católica, há muitas intervenções que são inspiradas pelo Espírito Santo: algumas vezes, algumas pessoas se sentem movidas pelo Espírito a partilhar uma experiência, a dizer uma oração ou a ler um texto claramente guiado por Deus; outras vezes, uma idéia, uma visualização ou uma moção recebida é comunicada aos outros. Quando falamos de “profecia”, estamos nos referindo à comunicações do Senhor. Estas podem ser expressadas de forma simples e direta, como, por exemplo: “ Eu estou com vocês, não temam”... através de uma mensagem em línguas e sua interpretação, através de uma canção profética ou de uma visualização recebida.
Quando uma profecia é recebida, há dois aspectos envolvidos: um é aquele de sentir-se movido por Deus a falar e o outro é uma iluminação da mente para expressar a mensagem. Estes aspectos podem ser consecutivos ou simultâneos. Sentir-se movido por Deus a falar pode manifestar-se em sinais físicos, como o aumento dos batimentos cardíacos, um peso que persiste, ou um impulso sereno em dizer alguma coisa. Em qualquer caso, devemos sempre considerar de que nenhum impulso divino é incontrolável ou deixa a pessoa perturbada: o espírito profético deve estar sob o controle do “profeta” (1 Cor 14,32). Por sua vez, a iluminação da mente acontece através de idéias, palavras, frases que surgem na mente, visualizações ou inspirações repentinas.  Algumas vezes a pessoa recebe uma mensagem completa, mas é bastante comum que a pessoa receba a mensagem como ele/ela a expressam. O conteúdo da profecia é uma mensagem de Deus para aquele momento e seu propósito é edificar a comunidade, confortar, dando-lhe paz e alegria, encorajar, fortalecer, corrigir ou exortar.
Embora a profecia seja uma mensagem de Deus, esta é dada através de uma pessoa que fala quando movida pelo Espírito. Pela mesma razão, faz-se necessário discernimento para saber se é genuína. Quanto mais uma pessoa estiver entregue a Deus, mais pura e transparente será a mensagem.  Este é o motivo pelo qual a profecia deve ser discernida pela comunidade: “Quanto aos profetas, falem dois ou três e os outros julguem” (1 Cor 14,29).
Os critérios para discernir podem ser agrupados considerando que a mensagem de Deus deve “ter a fragrância de Cristo...o perfume da vida conduzindo à vida”.
(2 Cor 2,14-16 ).  Allan Panozza considera cinco critérios para discernir uma profecia genuína:  dar bons frutos; estar de acordo com as Escrituras; encorajar, edificar, exortar, trazer paz e não medo; dar glórias a Deus, e o profeta estar sob a unção de Deus.
Através do processo de discernimento, a profecia verdadeira, a falsa profecia, e a pseudo profecia podem ser distinguidas. A verdadeira tem os atributos expressos acima. A falsa profecia não aparece com freqüência e geralmente contradiz, em algumas de suas partes, o que a Palavra de Deus ou o ensinamento da Igreja expressam; é expressa em palavras agressivas ou condenatórias; seus efeitos são negativos e seus frutos são a inquietude, a angústia ou a ansiedade. Há situações que favorecem a falsa profecia: pessoas que tem tido contato com o oculto, divisões no grupo, situações de pecado ou o desejo por carismas extraordinários. A pseudo profecia corresponde a uma mensagem que vem da pessoa, seja através de seus pensamentos, sentimentos ou emoções; sem prejudicar, ela não tem o poder e a unção que vem de Deus. Por último, há também mensagem dadas como profecias nas quais o que vem de Deus se mistura com o que vem da pessoa. Isto geralmente acontece quando uma pessoa começa a profetizar. Neste caso, a pessoa responsável pelo grupo ou comunidade deve ajudar para que este dom seja purificado no irmão ou irmã que a manifestam.
A profecia é um dom muito apreciado por São Paulo: “Empenhai-vos em procurar a caridade. Aspirai igualmente aos dons espirituais, mas sobretudo ao da profecia” (1 Cor 14,1).
Não desprezá-la, é uma insistência que ele faz em suas cartas ( Tes 5, 19-21) a fim de que a apreciemos e a promovamos em nossos grupos de oração, dando ensinos apropriados sobre o assunto, apoiando, orientando e ajudando os irmãos e irmãs que mostram ter este dom para que cresçam,  encorajando e ensinando o grupo a acolher e expressar a profecia que geralmente aparece em momentos de recolhimento, adoração, longos silencias e após cantar em línguas.
Finalmente, devemos considerar que deve haver algum tipo de autoridade a qual a profecia se submete; no grupo de oração, são os líderes que a discernem; em outros eventos como retiros ou reuniões, o discernimento é feito por uma equipe.
Resumindo, como a profecia é uma mensagem inspirada pelo Espírito, é um dom altamente estimado na Renovação Carismática e nos grupos de oração e deveria ser convenientemente encorajado. Quando um grupo reza e invoca o Espírito, Ele age edificando, exortando ou confortando a comunidade através de palavras proféticas na boca de pessoas simples que se abrem à Sua ação. Entretanto, o discernimento é essencial para distinguir a profecia verdadeira de outras mensagens que não vem de Deus.

Fonte: http://www.rccbrasil.org.br

Como a arte nos ajuda na relação com Deus


Em sua série de catequeses sobre a oração, o papa Bento XVI dá continuidade aos seus ensinamentos falando sobre a relação da arte e a elevação à Deus.


Queridos irmãos e irmãs:
Neste período, recordei muitas vezes a necessidade que todo cristão tem de encontrar tempo para Deus, através da oração, em meio às muitas ocupações da nossa jornada. O próprio Senhor nos oferece muitas oportunidades para que nos lembremos d'Ele. Hoje eu gostaria de falar brevemente de um desses meios que podem nos conduzir a Deus e ser também uma ajuda para encontrar-nos com Ele: é o caminho das expressões artísticas, parte dessa via pulchritudinis – “via da beleza” – da qual falei tantas vezes e que o homem deveria recuperar em seu significado mais profundo.
Talvez já tenha lhes acontecido que, diante de uma escultura, um quadro, alguns versos de poesia ou uma peça musical, tenham sentido uma íntima emoção, uma sensação de alegria; percebem claramente que, diante de vocês, não existe somente matéria, um pedaço de mármore ou de bronze, uma tela pintada, um conjunto de letras ou um cúmulo de sons, e sim algo maior, algo que nos “fala”, capaz de tocar o coração, de comunicar uma mensagem, de elevar a alma. Uma obra de arte é fruto da capacidade criativa do ser humano, que se interroga diante da realidade visível, que tenta descobrir o sentido profundo e comunicá-lo através da linguagem das formas, das cores, dos sons. A arte é capaz de expressar e tornar visível a necessidade do homem de ir além do que se vê, manifesta a sede e a busca do infinito. Inclusive é como uma porta aberta ao infinito, a uma beleza e uma verdade que vão além do cotidiano. E uma obra de arte pode abrir os olhos da mente e do coração, conduzindo-nos ao alto.
Há expressões artísticas que são verdadeiros caminhos rumo a Deus, a Beleza suprema, que inclusive são uma ajuda para crescer na relação com Ele, na oração. Trata-se das obras que nascem da fé e que a expressam. Um exemplo disso é quando visitamos uma catedral gótica: sentimo-nos cativados pelas linhas verticais que se elevam até o céu e que atraem nosso olhar e nosso espírito, enquanto, ao mesmo tempo, nos sentimos pequenos ou também desejosos de plenitude... Ou quando entramos em uma igreja românica: sentimo-nos convidados de forma espontânea ao recolhimento e à oração. Percebemos que nesses esplêndidos edifícios se recolhe a fé de gerações. Ou também quando escutamos uma peça de música sacra que faz vibrar as cordas do nosso coração, nossa alma se dilata e se sente impelida a dirigir-se a Deus. Vem-me à memória um concerto de música de Johann Sebastian Bach, em Munique, dirigido por Leonard Bernstein. No final da última peça, uma das Cantatas, senti, não racionalizando, mas no profundo do coração, que o que eu havia escutado havia me transmitido verdade, verdade do sumo compositor que me conduzia a dar graças a Deus. Ao meu lado estava o bispo luterano de Munique e espontaneamente lhe comentei: “Ouvindo isso se entende: é verdadeira, é verdadeira a fé tão forte e a beleza que expressa irresistivelmente a presença da verdade de Deus”.
Quantas vezes quadros ou afrescos, frutos da fé do artista, com suas formas, com suas cores, com suas luzes, nos conduzem a dirigir o pensamento a Deus e fazem crescer em nós o desejo de acudir à fonte de toda beleza! É profundamente certo o que escreveu um grande artista, Marc Chagall: que os pintores mergulharam seus pincéis, durante séculos, no alfabeto de cores que é a Bíblia. Quantas vezes as expressões artísticas podem ser oportunidades para lembrarmos de Deus, para ajudar nossa oração ou para converter o nosso coração! Paul Claudel, famoso poeta, dramaturgo e diplomata francês, ao escutar o canto do Magnificat durante a Missa de Natal na basílica de Notre Dame, em Paris, em 1886, advertiu a presença de Deus. Não havia entrado na igreja por motivos de fé, mas para encontrar argumentos contra os cristãos. No entanto, a graça de Deus agiu no seu coração.
Queridos amigos, eu lhes convido a redescobrir a importância deste caminho também para a oração, para a nossa relação viva com Deus. As cidades e os países do mundo inteiro contêm tesouros de arte que expressam a fé e nos recordam a relação com Deus. Que a visita a lugares de arte não seja somente ocasião de enriquecimento cultural, mas que possa se tornar um momento de graça, de estímulo para reforçar nosso vínculo e nosso diálogo com o Senhor, para deter-nos a contemplar – na transição da simples realidade exterior à realidade mais profunda que expressa – o raio de beleza que nos atinge, que quase nos “fere” e que nos convida a elevar-nos até Deus. Termino com uma oração de um salmo, o salmo 27: “Uma só coisa pedi ao Senhor, só isto desejo: poder morar na casa do Senhor todos os dias da minha vida; poder gozar da suavidade do Senhor e contemplar seu santuário” (v.4). Esperemos que o Senhor nos ajude a contemplar sua beleza, seja na natureza ou nas obras de arte, para sermos tocados pela luz do seu rosto e, assim, podermos ser, também nós, uma luz para o nosso próximo.
Obrigado.
No final da audiência, Bento XVI saudou os peregrinos em vários idiomas. Em português, disse:
Amados peregrinos de língua portuguesa, uma cordial saudação de boas-vindas para todos. Procurem descobrir na arte religiosa um estímulo para reforçar a sua união e o seu diálogo com o Senhor, através da contemplação da beleza que nos convida a elevar o nosso íntimo para Deus. E que Ele os abençoe. Obrigado!

Fonte: http://www.rccbrasil.org.br

Grupo de Oração, comunidade fraterna


Grupos de Oração sem a experiência do Batismo no Espírito Santo, exercício dos carismas e o cultivo da vivência fraterna, revelam uma face desfigurada da RCC. Reflitamos a esse respeito tendo por base o texto de Rogério Soares, para a Revista Renovação, edição nº70, que nos traz, também, um comovente testemunho  sobre o que pode acontecer quando um Grupo de Oração vive plenamente sua identidade.

Por
Rogério Soares
Coordenador Estadual da RCC São Paulo
Grupo de Oração Kénosis
A identidade carismática é marcada por três elementos essenciais: o batismo no Espírito Santo, o exercício dos carismas e a vida fraterna. Embora existam outros ambientes em que a prática desse conjunto de elementos possa acontecer, o Grupo de Oração é, sem dúvida, um lugar privilegiado para que se viva profundamente tais experiências.
Dizemos “lugar privilegiado” – não exclusivo – pelo fato de que no Grupo de Oração tais experiências emanam “de modo natural” como decorrência da abertura da comunidade reunida à experiência do Espírito. Há na comunidade ali reunida uma fé expectante no agir de Deus que se manifesta por meio do Batismo no Espírito Santo, que derramará seus dons e carismas e possibilitará a experiência de vida fraterna.
Esses três elementos confirmam e autenticam a identidade carismática. Por isso mesmo, o rosto de um Grupo de Oração – comunidade carismática – só pode ser percebido na integração desses três elementos, no mínimo.
Na Renovação Carismática Católica, dois desses elementos estão sempre em relevo: as chamadas experiências de Batismo no Espírito e a prática dos carismas. De fato, esses dois elementos são emblemáticos e não podem ser relegados a um segundo plano ou postos como adornos na vida do Movimento. Isso significaria desfigurar o rosto da RCC, tornando-a dispensável à própria Igreja Católica. Renunciar a esses elementos significaria nossa desfiguração ou deformação do rosto carismático que trazemos por vocação na Igreja.
Ora, o mesmo vale dizer para o elemento “vida fraterna”, que com os outros dois anteriores ajudam a caracterizar a identidade carismática da RCC. Tão imprescindível quanto o batismo no Espírito Santo e a prática dos carismas, a vida fraterna torna-se elemento constitutivo na legitimação de nossa identidade carismática. Ninguém é batizado no Espírito Santo para continuar vivendo no isolamento. Pelo contrário, a experiência do Espírito abre a pessoa à experiência comunitária, no amor de irmãos que, assim como ela, também se descobriram amados por Deus. A pessoa é atraída – não forçada – para uma comunidade, lugar onde poderá exercitar os carismas recebidos, crescendo em “sabedoria e graça” (Lc 2,52).
Grupo de oração, lugar de vida fraterna
O Novo Testamento revela que o grupo dos discípulos de Jesus já mantinha grande convivência mesmo antes de Pentecostes. Desde que foram chamados por Jesus, os discípulos já faziam uma experiência de vida fraterna, assistida e coordenada pelo Mestre. Enquanto aguardavam o cumprimento da promessa (At 1,4), eles permaneciam em Jerusalém, na sala do Cenáculo. Aguardavam como comunidade reunida.
Podemos tirar dessa afirmação ao menos três questões relevantes para nossa reflexão: 1) Pentecostes é uma experiência vivida “na comunidade”; 2) Embora seja na comunidade, a experiência do Espírito é pessoal; 3) Uma consequência constitutiva de Pentecostes é a vida em comunidade.
1) Pentecostes é uma experiência vivida na comunidade
Quando o Espírito Santo foi derramado no dia de Pentecostes (Cf. At 2), Lucas escreve que “eles estavam reunidos no mesmo lugar” (At 2,1). Alguns dias antes, dois deles haviam se destacado do grupo e caminhavam para fora da cidade quando o próprio Jesus lhes aparecera convidando-os a retornar à cidade e a juntar-se novamente à comunidade, até que fossem revestidos da força do alto (Cf. Lc 24,49). Ora, não foi obra do acaso o fato de o Espírito Santo ter se manifestado quando os discípulos estavam reunidos em comunidade.
A imagem da comunidade reunida aguardando o derramamento do Espírito Santo não nos parece ser a imagem mais próxima daquilo que marca nossos Grupos de Oração? A reunião de oração de um povo que aguarda com “fé expectante” a manifestação poderosa do Espírito é a forma mais autêntica de definir o significado de um Grupo de Oração. O Espírito Santo vem quando eles estão reunidos. A importância de “permanecer reunidos” em comunidade para a concretização da promessa do Consolador (Jo 14, 16) é essencial para o evento Pentecostes.
2) A experiência do Espírito é pessoal
Não obstante ao fato de Pentecostes ser uma experiência comunitária, o texto dos Atos dos Apóstolos sublinha o fato de que as “línguas de fogo pousaram sobre cada um deles” (At 2,3).
Chamamos de “experiência pessoal do Espírito” a realidade que cada um experimenta individualmente quando Deus derrama seu Espírito na comunidade reunida. O Espírito é dado a todos, mas cada um o recebe na medida da abertura de seu próprio coração. Não se trata de uma experiência “de massa”, por indução ou por “contágio”. O Espírito de Deus visita a comunidade e enche a todo que se deixa por Ele ser tocado. O “sim” ao Espírito é fruto da liberdade de cada fiel que se abre à experiência de amor.
Tal experiência individual, no entanto, não mantém o fiel no isolamento ou na indiferença ao irmão. Ao contrário, tanto mais a experiência do Espírito atinge a particularidade de cada pessoa, quanto essa pessoa vai abrindo-se à vida fraterna em comunidade. À medida que se descobre o agir do Espírito na vida interior, aumenta na mesma proporção o grau de aproximação da pessoa com a comunidade. Essa é uma forma de verificação da realidade de Pentecostes na vida do fiel.
É fundamental, portanto, ao Grupo de Oração, que cada um viva sua experiência pessoal do Espírito de forma contínua, pois isso resultará em grande graça para cada participante e para toda a comunidade. Na medida em que “a graça de Deus cresce em nós sem cessar”, vamos tornando-nos expressão dessa mesma graça para nossa comunidade, favorecendo assim nossa vida fraterna.
As divisões dentro de um Grupo de Oração não são frutos de meros impulsos humanos, mas no fundo, da ausência da graça de Deus em nós. O afastamento da vida na graça de Deus poderia tornar-nos insuportáveis uns aos outros. Sem a presença do “amor de Deus derramado em nossos corações” (Rm 5,5) como poderíamos ser chamados de irmãos?
Por isso, faz-se necessário pedir sempre um novo Pentecostes para cada pessoa presente no Grupo de Oração, individualmente.
3) Uma consequência constitutiva de Pentecostes é a vida em comunidade
Chegamos aqui ao ponto central de nosso tema. Pensar o Grupo de Oração como uma comunidade fraterna é tocar na consequência objetiva mais impactante de Pentecostes. Mais desconcertante do que a manifestação miraculosa dos carismas de profecia, cura e pregação na comunidade primitiva, o testemunho de uma comunidade fraterna (frater = irmãos) deixava os concidadãos dos discípulos intrigados. “Vejam como eles se amam”, diziam a respeito daqueles seguidores de Jesus que há pouco recebera o Espírito Santo. Era o cumprimento do mandamento do Senhor: “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo 13, 35).
Traduzimos por “comunhão fraterna” o termo grego koinonia. Trata-se da união espiritual dos que se deixaram batizar na mesma fé e que assumiram um projeto de vida comum.
Se antes da vinda do Espírito era possível a comunidade permanecer reunida, agora com o derramamento abundante da graça do Espírito será possível atingir o aperfeiçoamento da vida comunitária. O sonho de viver como irmãos tornar-se-á possível exatamente por auxílio da graça derramada. As disputas ou divisões podem ser superadas, pois “o amor foi derramado nos corações” (Rm 5,5). A partilha não será uma utopia para quem se deixou tocar e conduzir pelo Espírito. “Eles tinham tudo em comum” (At 4,32).
Quando a experiência do Espírito toca-nos profundamente o mais íntimo do coração, somos convencidos de que a comunidade de irmãos (embora ainda repletas de limitações e fragilidades humanas) é um verdadeiro refúgio e fortaleza na luta contra tudo o que há de mal no mundo.
Nesse sentido, o Grupo de Oração é um lugar privilegiado para a experiência fraterna! E para que essa realidade se concretize na vida cotidiana do GO é preciso que cada participante saiba de sua importância, como colaborador do Espírito no aperfeiçoamento da vida fraterna da comunidade.
A atitude de acolher não deve ser delegada a um grupo de pessoas, apenas. Embora exista normalmente um ministério ou equipe de acolhida em nossos Grupos de Oração, a função de acolher ao próximo é papel de todos. Coordenadores, servos e participantes devem se deixar conquistar pela graça do acolhimento, dom próprio do Espírito derramado na vida da comunidade.
A fraternidade não deve existir somente em função de uma necessidade ou situação inusitada. Ela deve ser constitutiva na vida do Grupo de Oração. Acolher com alegria e cuidar uns dos outros é um dos sinais evidentes de Pentecostes.
Um testemunho
Participo de Grupo de Oração há quase 25 anos. Durante esse tempo vivi e continuo vivendo muitas experiências que acabam por deixar marcas profundas em minha história pessoal. Quantas curas miraculosas, vi acontecer pela manifestação de legítimos carismas no meio da comunidade. Quantas pessoas eu vi mudarem de vida depois de terem vivido a experiência de batismo no Espírito Santo. Em minha vida mesmo, quantas mudanças percebi como decorrentes dessa ação do Espírito! Louvo a Deus por tudo o que Ele fez em mim!
Preciso afirmar, entretanto, que as experiências que mais marcaram minha vida e da minha família foram as experiências de vida fraterna no seio do Grupo de Oração.
No ano de 1996, passamos por uma grande dificuldade que atingiu nossa vida financeira. Morávamos de aluguel e recebemos comunicado de despejo, pois estávamos entrando no terceiro mês de atraso no pagamento. Não tínhamos condições de pagar aquele valor e não sabíamos como resolver aquela situação. Eu e minha esposa buscávamos encontrar saídas para aquele episódio de constrangimento e preocupação para com nossos filhos. Rezávamos e íamos com nossos filhos ao Grupo de Oração. Eu e minha esposa fazíamos parte do Ministério de Música e éramos responsáveis pela animação de louvor na reunião de oração. Nossos problemas nunca nos impediram de assumirmos nosso ministério com alegria.
Enquanto apresentávamos por meio da oração esta situação difícil diante de Deus, alguns irmãos do Grupo de Oração ficaram sabendo de nossa situação e naquele momento pude ver a consequência do batismo no Espírito Santo acontecer de forma bastante concreta no testemunho comunitário do meu Grupo de Oração. Fizeram uma coleta entre eles, sem que eu soubesse, e me ajudaram a quitar meus aluguéis atrasados e contas de água e luz. Cuidaram de minha família, como pastores que cuidam de suas ovelhas. Supriram nossas necessidades de alimentos durante cerca de seis meses, até que eu tivesse melhorado minhas condições. Até o material escolar de minhas crianças era providenciado por Deus pela ação fraterna dos membros do Grupo de Oração. Não se tratava de um mero assistencialismo. Percebíamos o amor com que realizavam aquelas ações em nosso favor. Tudo estava acompanhado de profundos momentos de oração em minha casa. A atenção que recebemos naquele momento de fragilidade que minha família passava marcou-nos profundamente.
Entendi através daqueles momentos que o testemunho de partilha e comunhão fraterna das primeiras comunidades cristãs não era uma utopia. Eu vi em minha própria vida esta consequência de Pentecostes. Aquela atitude de acolhida testemunhou e consolidou na comunidade o batismo no Espírito Santo. Eram sinais da Cultura de Pentecostes!
Quantas pessoas podem estar participando de nossos Grupos de Oração  e que estão precisando ser acolhidas e cuidadas com mais atenção? Seria justo celebrar durante uma hora e meia ao lado de uma pessoa que se senta ao nosso lado na Igreja, cantando cantos alegres e ouvindo a Palavra de Deus, sem sequer saber o nome e o lugar de onde aquela pessoa vem? E se ela não voltar, quem perceberá sua ausência? Quantos dentre os próprios servos vivem verdadeiras lutas sem poder contar com a ajuda dos irmãos de comunidade...
Devemos continuar com os olhos voltados para o céu, esperando as respostas de Deus, mas precisamos manter também os braços abertos e estendidos para acolher cada um daqueles que foram atraídos ao nosso Grupo de Oração. A experiência de amor vivida em comunidade deixará marcas profundas na vida de todos, sobretudo na vida daqueles que receberem esse amor fraterno.
Peçamos continuamente o batismo no Espírito Santo em nossas reuniões de oração para que a comunidade, repleta dos dons e carismas do Espírito, seja capaz de traduzir tudo isso num autêntico testemunho de vida fraterna.

Fonte: http://www.rccbrasil.org.br