O barco, nomeado “Novo Pentecostes, chegou como um presente de Deus na data que marcou os dois anos de envio dos missionários ao Marajó. Em agosto de 2009, o Escritório Nacional da RCC elaborou um projeto e encaminhou para a AIS – Ajuda a Igreja que Sofre – da Alemanha, solicitando recursos para a compra da embarcação. Após alguns meses de negociação, o projeto foi aprovado. Escolhemos o barco e até o reformamos, mas faltava algo: a liberação dos recursos para que a venda fosse efetivada. Fato que aconteceu no dia 04 de maio de 2010, ou seja, exatamente no dia que nossos primeiros missionários receberam a bênção de envio para a missão. Glórias e honras sejam dadas ao Senhor! Foi um presente Dele para nós, Renovação Carismática Católica do Brasil.
O desejo de possuir um barco foi motivado pela necessidade de alcançar as comunidades ribeirinhas que pela dificuldade de acesso vivem isoladas de trabalhos de assistência e evangelização. O nosso barco tem capacidade para até 40 passageiros e atingirá os ribeirinhos com formação e prestação de serviços.
A missão já começou!
Em novembro/2010, missionários partiram para a primeira ação da Missão São João Batista. Esse projeto tem como objetivo levar Jesus Eucarístico até os pontos mais afastados da Ilha do Marajó/PA , pois esses locais recebem a visita de um sacerdote apenas uma vez por ano.
Uma graça concedida por Deus: Veja relato de missionária sobre Missão São João Batista
A Missão Marajó da RCCBRASIL já acontece há três anos no Pará. Entre várias atividades desenvolvidas junto a comunidade, existe uma chamada “Missão São João Batista”, na qual os missionários saem para o interior da ilha no barco Novo Pentecostes e visitam as famílias ribeirinhas, dando assistência social e espiritual. Leia, na integra, o relato de Pâmela Rodrigues, missionária natural do Paraná que, há mais de um ano, dedica sua vida aos irmãos marajoaras.
Que graça Deus me concedeu, com apenas dois meses e meio na Missão Marajó, tive oportunidade de participar da I Missão São João Batista, nos ribeirinhos, com o nosso barco Novo Pentecostes. Missão esta sonhada desde o início da missão, há mais de três anos.
Era o sonho missionário se realizando. Durante o tempo de preparação para a missão o que mais me tocava eram os ribeirinhos e o fato de receberem Jesus eucarístico apenas uma vez ao ano. E, estar indo até eles era realmente a realização de um sonho.
Saímos na quinta-feira (18/11), por volta das 15 horas da cidade de Breves, rumo ao seu imenso interior. Éramos sete pessoas: eu, Beto, Virtes, Ezequiel, Renata, Ivane e o barqueiro seu José.
Logo que o barco começou a andar rumo aos horizontes que Deus nós preparava, fui para a proa e, ao olhar as maravilhas que Deus criou e a graça que Ele me concedia, logo as lágrimas vieram e fui lembrando de fases do meu chamado. Eu ainda não tinha me dado conta, mas tudo o que imaginei e sonhei antes de vir pra cá estava se realizando. Lembrei de quando contava para as pessoas na minha cidade um pouquinho do que sabia sobre a missão: ribeirinhos passarem 365 dias sem comungar; e o fato de viver como eles vivem, se têm o que comer, eles comem. Se não têm, não comem. Viver a realidade deles, do jeito deles, dormir em rede, banho de rio, enfim viver realmente como eles vivem foi o que sonhei e o que aconteceu.
Fizemos então um momento de oração, entregando tudo ao Senhor, e clamando o Espírito Santo para que o Novo Pentecostes acontecesse na vida daqueles que Deus nos confiava e também a nós para que realizássemos sempre a vontade do Pai.
Era lindo ver a mão de Deus sobre todo esse lugar. Ao decorrer da viagem fomos passando por grandes vilas. Foi incrível ver onde o homem chegou, em lugares que pareciam inabitáveis.
Á tardinha chegamos à comunidade Cristo Rei, onde passamos a noite e até pesquei, pela primeira vez, em águas amazônicas. Fomos muito bem acolhidos pela família do dirigente, e percebi sua felicidade em seus olhos brilhantes.Eu e a Renata fomos até a capela e Deus nós falava que estávamos rodeados de anjos, não tínhamos o que temer.
Á tardinha chegamos à comunidade Cristo Rei, onde passamos a noite e até pesquei, pela primeira vez, em águas amazônicas. Fomos muito bem acolhidos pela família do dirigente, e percebi sua felicidade em seus olhos brilhantes.Eu e a Renata fomos até a capela e Deus nós falava que estávamos rodeados de anjos, não tínhamos o que temer.
Na manhã de sexta-feira, começamos a seguir viagem rumo à comunidade onde seria realizado um encontro, porém a bomba do barco deu problema e Ezequiel ia tirando água do motor do barco e eu jogando para o rio, foi perigoso mais divertido também. Com isso, tivemos que parar na comunidade Santa Maria, onde os irmãos nós ajudaram e ai sim fomos para a comunidade Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, local do encontro.
O encontro de formação e espiritualidade começou ás três horas da tarde. Ali Deus me concedeu mais uma graça: pude fazer a celebração da Palavra e dar Jesus eucarístico aos irmãos que ansiosos esperavam por Ele.
Deus colocou muito forte em meu coração que Ele não se esquece desse povo, assim como fazem os políticos; tanto que seu Filho estava indo até eles. Me emocionei durante a minha pregação pois, como já descrevi e falei para eles aquele era um sonho real.
Logo após a celebração, houve uma apresentação seguida por uma adoração. Aquilo me marcou muito. Eram 40 pessoas que nunca tinha participado de uma adoração, elas sequer sabiam o que era isso. Foi lindo vê-los meio envergonhados e sem saber como agir diante de Jesus eucarístico.
Fiquei com vergonha de mim e chorei ao ver tamanha fé daquele povo. Senhores de 40,50 anos tocando no corporal, assim como aquela mulher que tocou a bainha da roupa de Jesus e foi curada. Foi lindo!
Era um povo muito simples, inteligente e acolhedor. Iniciamos o segundo dia com uma celebração. Era visível a mudança que começava a acontecer, o respeito e amor por Jesus na eucaristia, daquelas cerca de 30 pessoas que comungaram. Após a celebração, tivemos um momento de louvor onde participavam ativamente. Então foram divididos para a formação de dirigentes, liturgia, catequese e atividades com as crianças, as quais eu e Renata éramos responsáveis. Confesso que quando soube que eu iria ficar com elas não fiquei tão animada, mas Deus me mostrou que fiquei com a melhor parte: crianças encantadoras e amáveis, que me ensinaram muitas coisas. Um menino de apenas três aninhos dividiu com mais de 20 crianças o seu pequeno salgadinho, um exemplo perfeito.
Eles louvaram, dançaram, pintaram e rezaram ao anjinho da guarda. Fiquei triste quando soube que nenhuma das crianças sabia que tinham anjo guardião. Foi tudo de bom falar de Deus através de gestos simples de amor.
Durante o dia fomos preparando-os como momentos de oração, para o Grupo de Oração que foi realizado á noite. Foi falado muito sobre um novo Pentecostes que Deus realizava ali. O enceramento foi com a celebração na manhã de domingo, que reuniu mais de 80 pessoas das diversas comunidades que participavam do encontro.
No final, nós missionários falamos da alegria em estar ali, conviver com eles e o aprendizado que nos davam. Assumimos que ter atividades da Igreja Católica no interior é um milagre, pois,os padres vão apenas uma vez ao ano e os pastores protestantes, todo domingo estão lá. As lágrimas foram inevitáveis em todos nós. Choramos e levamos os participantes as lágrimas também.
Durante a tarde e toda a semana, fizemos visitas às comunidades, realizando celebração da Palavra com eucaristia todos os dias e visitas aos moradores, conhecemos as suas realidades, que são muito tristes.
Aprendi muito com eles e minha admiração é tremenda. Vivem tão isolados, sem telefone, energia elétrica, posto médico, profissionais e remédios. As escolas põem a vida em risco pela estrutura, a maioria dela é só até a quarta série.
Conheci famílias nas quais nenhuma das pessoas tinham documentos: nem pai, nem mãe e nenhum dos sete filhos. Eles nunca saíram dali e frases que para eles são normais por estarem acostumados com tanto sofrimento: “nosso filho de dois anos morreu de picada de escorpião porque não tínhamos dinheiro para levar até a cidade no médico”, ou de uma menina que morreu picada por cobra, e sua tia me disse “nós sempre esperamos um milagre de Deus”. Houve ainda uma mãe que falou sobre a situação física da escola “é pior que chiqueiro de porco, chiqueiro de porco é aparedado” . E ainda um senhor me disse: “A gente vive porque não tem outro apelo, não tem para onde correr. Tem dia que tem o que comer, tem dia que não tem”.Alguns ainda falaram da falta de emprego “Só Deus que pode dá um meio pra gente sobreviver”.
Deus é a única esperança desse povo, pois aqueles que têm o poder e humanamente poderiam mudar essa situação não se preocupam com o próximo, como me disseram: “só se lembram da gente, na política, o povo ribeirinho é um povo esquecido”.
O que mais me marcou, foi quando eu e Ezequiel chegamos à última casa que visitamos nessa missão. Uma mulher de apenas 22 anos com três filhos, a mais velha, de quatro anos, estava pálida, amarela, magrinha, com quase duas semanas sem comer por causa de pneumonia. Quando chegamos ela estava sentada no chão com um olhar tão triste e os pais não tinham dinheiro para levá-la ao médico em Afuá ou Macapá (cidades mais próximas com recursos).
Não sabíamos nem o que fazer ou falar, tentamos nos segurar mais não deu, durante a oração choramos . Eu me ajoelhei o lado daquela inocente e apenas clamei á Deus para que viesse realizando um milagre e curando-a, pois o pior aconteceria. Cheguei a falar é só tú Senhor, mas Deus é TUDO, e confiante no amor misericordiosos do nosso Pai sei que a graça já acontece na vida dela. É nessas horas em que vejo minha pequenez e que se não for Deus nada acontece. Fico triste com essa situação, mais feliz em saber tamanha missão que Deus me confia.
Na sexta-feira dia, 26/11, fomos para a segunda parte do setor São Vicente, realizar também o encontro de formação e espiritualidade, com os mesmos direcionamentos e, mais uma vez, foi lindo ver o poder de Deus na vida daquelas pessoas que em cada oração se emocionavam e se entregavam mais á ação do Espírito Santo.
Para encerrar, cito uma frase que me marcou, dita naquela ocasião pelo dirigente da comunidade: “foi o encontro das nossas vidas, o melhor fim de semana das nossas vidas”. Foi uma graça e um aprendizado pra vida toda. O que sinto é que a missão começa agora, missão de lutar e servir esse povo que o Senhor me confia.
E, realmente, o novo Pentecostes está acontecendo no Marajó!
Pâmela Rodrigues - Missionária da RCCBRASIL na Ilha do Marajó/PR
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