Santo Agostinho afirmou, certa vez: "Se queres saber o que cremos, vem ouvir o que cantamos.
O mesmo santo nos diz que "Cantar é próprio de quem ama". E ainda: "Cantar é rezar duas vezes"
Estas três afirmações bastariam para fundamentar o porquê do nosso canto na liturgia. Cantamos porque amamos. Cantamos porque cremos. Cantamos porque o Senhor é a nossa Festa. A Liturgia é uma festa. E não há festa sem música. . Daí a importância do canto nas nossas celebrações. Não um canto qualquer, apenas como enfeite ou algo secundário, mas como parte integrante da celebração, por isso é um canto chamado litúrgico, ministerial, que está em função da Palavra e do Mistério celebrado, cujo centro é sempre Jesus Cristo, nossa Páscoa, isto é, sua vida, paixão, morte e ressurreição, à luz do qual vivemos também nossas mortes e ressurreições.
Destacamos, a seguir, algumas razões fortes, fundamentais, citadas em documentos da Igreja, sobre o motivo do nosso cantar, na comunidade celebrante, com a participação de toda a assembléia:
1. O canto é um dos meios mais eficazes e pedagógicos para a formação cristã e litúrgica, pessoal e da assembléia.
2. O canto é caminho para o encontro entre o homem e Deus. Tem força de transformação, porque toca as profundezas da alma, as fibras mais íntimas do nosso ser.
3. Cantar em comum produz união, cria sintonia , solidariedade e comunhão entre os participantes. Enquanto cantam as vozes, unem-se os corações, expressando a mesma fé, solidificando a fraternidade, aprofundando e celebrando o amor.
4. O canto nos ajuda a sair de nós mesmos, para irmos ao encontro do outro, fazendo-nos menos individualistas e mais comunitários. Deixamos o eu, para assumir o nós.
5. O canto é sinal e símbolo da polifonia da vida, onde somos tão diferentes, cada qual com seus dons, sua vocação e missão, mas todos unidos no mesmo coro, numa só voz, onde Deus é o nosso "Canto Firme", que nos sustenta e faz cantar.
6. Por isso é tão importante que toda a comunidade participe do canto e não apenas um pequeno grupo. Diz o documento da Igreja sobre a Música Sacra, que " Nada há de mais festivo e mais grato nas celebrações do que uma assembléia que, por inteiro, expresse sua fé e sua piedade através do canto."
7. A Liturgia sempre foi marcada pelo canto. Basta lembrar os Salmos, no Antigo Testamento. Jesus Cristo cantou os salmos, entoou hinos e aleluias com os apóstolos, sendo Ele mesmo o Cantor do Pai e nossa Música da vida. Também os primeiros cristãos sempre deram razão de sua esperança, através do canto que brota da vida, ora como grito e súplica, ora como louvor e ação de graças, ora como aclamação e aleluia. Deus é a fonte e a razão do nosso canto e do nosso louvor.
8. A música, pela suavidade da melodia, pela harmonia das vozes, pela força do ritmo e dos sons, expressa melhor o Mistério de Deus e as verdades da nossa fé. Uma coisa é falarmos, por exemplo, "Senhor, tende piedade de nós", mas bem outra é cantar uma melodia suplicante, expressando o pedido de perdão, pois no dizer do poeta, enquanto cantamos, pronunciando as palavras, o Espírito Santo semeia luz e graça nos corações.
9. "Poucas coisas são tão próprias para excitar a piedade nas almas e inflamá-las com o fogo do amor divino como o canto" (Santo Agostinho). E Santo Ambrósio, outro cantor e compositor de hinos religiosos, completa bem: "Na verdade, não vejo o que os fiéis podiam fazer de melhor, de mais útil, de mais santo, do que cantar", quando reunidos na igreja para celebrar o Senhor.
10. O importante Estudo da CNBB n.º 79 dá 4 razões fundamentais do nosso cantar na Celebração:
a) Razão teológica - celebrar a ação de Deus em nossa vida, como resposta generosa e confiante ao seu amor por nós.
b) Razão cristológica - celebrar o Mistério Pascal do Senhor Ressuscitado entre nós.
c) Razão pneumatológica - cantar no Espírito, pois não só cantamos para Deus, mas em Deus, no seu Espírito.
d) Razão eclesuiológica - cantar e celebrar em comunidade. A comunidade faz o cantar, e o cantar faz a comunidade. Cantemos, pois, a vida, a fé, o amor! Deus é a razão do nosso cantar, e é Ele mesmo o nosso CANTO!
Irmã Míria T. Kolling
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